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Dia Mundial da Conservação da Natureza

No dia 28 de Julho celebra-se o Dia Mundial da Conservação da Natureza.


E o que é a conservação no âmbito da Ecologia?


A definição é tão complexa como o trabalho que se faz.


A conservação tem como objectivo a protecção da biodiversidade e dos ecossistemas terrestres e marinhos.


Os recursos naturais do planeta são essenciais à Vida. Recursos como a energia solar, o ar, a água, doce e marinha, o solo, com os seus nutrientes inorgânicos e os seus microrganismos, permitem a viabilidade de vidas complexas neste planeta rochoso. Cada espécie, cada molécula é essencial e todas fazem parte de um sistema funcional no qual tudo é necessário.


No entanto, a crescente população humana tem colocado uma elevada pressão nestes recursos, com a consequente alteração do funcionamento de diversos ecossistemas e à extinção (não natural) de muitas espécies.


A Terra perdeu e continua a perder a sua biodiversidade.  Os principais factores determinantes desta perda tem “mão” humana, tais como as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, a invasão e destruição de habitats, a poluição (sonora, luminosa, gasosa, material), a sobre-exploração (que já levou à extinção de algumas espécies quer de forma directa ou indirecta), a introdução e proliferação de espécies invasoras, entre outras.


A conservação tem por objectivo a preservação e utilização sustentável dos recursos naturais. De forma simples, é o uso controlado e equilibrado da natureza de forma a contribuir para a coexistência equilibrada. E isso só pode ser realizado com o conhecimento sobre a biologia e a ecologia das espécies e dos ecossistemas onde habitam.


Um exemplo concreto de políticas de conservação é a criação de áreas protegidas de forma a evitar que a pressão do ser humano interfira com o equilíbrio natural.

Tendo em consideração que a taxa de extinção de espécies está em aceleração é urgente tomar medidas que salvaguardem a biodiversidade do planeta Terra. Para melhor conhecer o que é a conservação, e nomeadamente a conservação que se faz em Portugal e em países de língua oficial portuguesa, convidámos alguns dos nossos jovens investigadores a partilharem o seu trabalho e a denunciarem quais as dificuldades e entraves que mais encontram ao estudar e trabalhar com a conservação da natureza. Foram estas as questões que lhes colocámos.


  1. Como descreveria o seu projecto?

  2. Como gostaria de contribuir para o futuro da conservação em Portugal e países de língua oficial portuguesa?

  3. Que dificuldades encontra para prosseguir os seus trabalhos? E quais os entraves que prevê no seu futuro em conservação?


Bárbara Matos

Bárbara Matos é aluna de doutoramento do programa doutoral BIODIV da Universidade de Lisboa, estando a desenvolver a sua investigação no cE3c - Centro de Ecologia Evolução e Alterações Ambientais, com o grupo de Conservação em Ecossistemas Socio-Ecológicos, investiga, principalmente o comportamento e a conservação de mamíferos marinhos.


O seu projecto doutoramento é sobre Cetáceos de Portugal!


Já trabalhou com cetáceos fora de Portugal, e gostaria de contribuir mais para o avanço do conhecimento destes animais no seu país.


O primeiro artigo da sua tese fala sobre as tendências de investigação sobre cetáceos em Portugal e ilhas, e também no norte de África. Neste artigo, entre outros assuntos, são avaliadas as diferenças sócio-económicas que possam afetar o avanço da pesquisa destes animais.


No seu segundo artigo, Bárbara investiga a distribuição espacial do golfinho roaz no sul de Portugal em comparativamente à Madeira. O objectivo é descobrir se existem diferenças na distribuição dos animais consoante as diferentes variáveis ambientais e biológicas, entre as duas regiões.


A jovem investigadora é da opinião que a área da investigação da megafauna marinha em Portugal é bastante difícil, pois requer grande financiamento para equipamento de investigação, tais como barcos, hidrofones, câmaras, etc. No entanto, e que mais mais esforços deveriam ser direcionados para a preservação do que já é conhecido.


Contudo, tal implica um envolvimento político muito maior, pelo que "um próximo passo seria unir mais a comunidade científica, para que possamos comunicar de forma mais consistente e conhecedora com os órgãos políticos" afirma. Com isto em mente Bárbara Matos, em conjunto com um grupo de investigadores e estudantes, liderados por Tiago Marques da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, organizou o EMMA, o Encontro Nacional de Mamíferos Marinhos, que teve como público alvo, trabalhadores e estudantes que trabalhem com mamíferos marinhos em Portugal Continental e Ilhas, quer da parte da investigação como empresarial. O objectivo era a discussão conjunta e o diálogo acerca dos desafios que se apresentam à investigação nesta área, o que está a ser desenvolvido, o que falta fazer e como se poderá colmatar estas lacunas no futuro


Uma das conclusões principais que retirou foi que a maior vantagem nasce da união de todos os que trabalham com mamíferos marinhos de forma a serem uma só voz de forma a melhor interagir com órgãos políticos, e assim, contribuir para uma melhor preservação destes animais que habitam as nossas águas.


"Mais do que um artigo publicado, para mim, a realização deste evento foi o que mais orgulho me deu ter feito, no âmbito do doutoramento." acrescenta.


Catarina Pinho

Catarina Pinho é aluna de Doutoramento em Biodiversidade, Genética e Evolução no CIBIO-InBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos.



Fernanda Garcia

Fernanda Garcia é aluna no CFE - Centro de Ecologia Funcional, no grupo "Soil and Freshwater Stress Ecology"  e investiga, maioritariamente veados (Cervus elaphus). 


Ao longo dos últimos anos os ecossistemas têm sido alvo de degradação e muitas espécies estão a extinguir-se, comprometendo assim o fornecimento de serviços dos ecossistemas.


O veado, Cervus elaphus, tem um grande impacto nos ecossistemas, essencialmente devido ao seu comportamento alimentar, sendo assim uma espécie chave em vários ecossistemas e na provisão de diversos serviços.


Este estudo tem como objetivo fornecer nova informação sobre o papel do veado na provisão de serviços dos ecossistemas em ambientes Mediterrânicos, com a relevância ecológica acrescida de ser conduzido na população em estado selvagem.


O veado contribui para a provisão de vários serviços de regulação, através do seu efeito na diversidade de plantas e compactação de solo; de suporte, através da sua ação no ciclo de nutrientes; e também de provisionamento e culturais.


Sendo o veado uma espécie provisora de serviços de ecossistemas, e com potencial económico, cinegético e turístico, mas também presa de várias espécies de predadores, é fundamental aumentar o conhecimento sobre esta espécie e a sua interação com o ecossistema, por forma a se tomarem decisões informadas conducentes à sua conservação.


Em Portugal, fatores como a degradação e fragmentação do habitat e a pressão antropogénica são dos principais fatores de ameaça a esta espécie, sendo de salientar o impacto das atividades cinegéticas.


Assim, a reabilitação de áreas florestais, a conservação de habitats e zonas húmidas, a gestão controlada das populações e a sensibilização sobre a importância do veado, são estratégias que devem ser implementadas para a conservação desta espécie.


No entanto, o facto do veado ter um ciclo de vida longo, a duração dos estudos necessários para se obter informação robusta sobre o papel e a interação desta espécie com os ecossistemas não é compatível com os atuais programas de financiamento. Este facto origina um constante retardar na definição e implementação das medidas de gestão e conservação necessárias.


Fernando Madeira

Fernando Madeira é aluno de doutoramento do programa doutoral BIODIV da Universidade de Lisboa, estando a desenvolver a sua investigação no cE3c - Centro de Ecologia Evolução e Alterações Ambientais no grupo de Ecologia da Conservação, e o sua pesquisa incide no estudo de ecologia e conservação de répteis e anfíbios. 


No seu doutoramento Fernando Madeira estuda tartarugas-marinhas no arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau, em colaboração com o projecto financiado pela MAVA: ‘Consolidation of Sea Turtle Conservation in the Bijagós, Guinea-Bissau’. Aqui nidificam quatro das sete espécies de tartarugas marinhas, sendo uma área de reprodução de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) de importância global.


O estudo incide maioritariamente em duas espécies, a tartaruga-verde e a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), e diversos aspectos da sua ecologia e conservação, tais como dieta e áreas de alimentação, situação da população reprodutora e padrões comportamentais.


Quando questionado como está a decorrer a sua investigação o jovem investigador afirma com entusiasmo que "Até agora conclui a maior parte da recolha de dados e publiquei uma pequena nota sobre albinismo e leucismo em tartarugas-verdes. Actualmente encontro-me em fase de análise e espero ter novos resultados para divulgação em breve."


O jovem investigador é da opinião que existe um envolvimento e interesse crescente do público geral na conservação, tendo este vindo a tornar-se cada vez mais vocal e participativo.


Através das redes sociais o acesso a informações e a sua partilha nunca foi tão fácil e por isso, numa era de informação “barata” e de mobilização pública, é cada vez mais importante a contribuição científica para a educação e discussão informada. "Espero poder ajudar a contribuir para fazer a ponte entre a comunidade científica e o público e ajudar a criar e divulgar informação de qualidade." afirma.


Fernando Madeira menciona quando questionado acerca das dificuldades em investigação em conservação que, a nível individual a maior dificuldade para os investigadores é a falta de financiamento estável a longo termo.


Para conservar eficazmente é necessária informação e acção a longo prazo e na maioria dos casos a duração dos projectos e das oportunidades de emprego é demasiado curta para ser bem-sucedida. E a nível geral o principal problema é o conflito entre interesses económicos de larga escala e a falta de poder de acção dos investigadores contra entidades mais influentes.


"Acho surreal como questões bem fundamentadas e justificadas, como por exemplo os impactos e consequências ecológicas do aeroporto do Montijo, para não falar de problemas mundiais como as alterações climáticas, continuem a ser teimosamente debatidas devido a interesses económicos." afirma.


Neste website poderão saber mais acerca do projecto no qual se insere o trabalho de Fernando Madeira, poderão encontrar mais informação em formato escrito e em vídeo.



Filipe Rocha

Filipe Rocha é aluno de doutoramento do programa doutoral BIODIV e investigador no CIBIO-InBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos.



João Gameiro

João Gameiro é investigador e estudante de doutoramento em Biodiversidade, Genética e Evolução no programa doutoral BIODIV da Universidade de Lisboa, estando a desenvolver a sua investigação no cE3c - Centro de Ecologia Evolução e Alterações Ambientais no grupo de Biodiversidade Tropical e Mediterrânea.


João Gameiro trabalha em ecologia e conservação, em particular de espécies de aves ameaçadas que habitam nas estepes cerealíferas do Baixo Alentejo.


As estepes cerealíferas são habitats criados por uma prática agrícola histórica e de baixa intensidade, nomeadamente de cultivos de cereal de sequeiro, mas que tem vindo a ser convertida por culturas de agricultura intensiva, como o olival ou a vinha.


A perda e degradação de habitat estepário tem consequências negativas para muitas espécies de aves, algumas consideradas das mais ameaçadas a nível europeu, como a abetarda (Otis tarda), o sisão (Tetrax tetrax), o francelho (Falco naumanni) ou o rolieiro (Coracias garrulus).


Quando questionado acerca do futuro da conservação em Portugal, o jovem investigador é da opinião que nunca houve muito investimento na conservação da Natureza em Portugal e certamente não muito investimento na Ciência ou na investigação.


João Gameiro acredita que o papel da investigação é fundamental para a conservação, porque é aí que se testam e fazem perguntas sobre se as medidas de conservação ou gestão da Natureza implementadas estão a ser eficazes ou não. A falta de investimento na investigação, naturalmente associado à precariedade financeira dos seus trabalhadores, é gravíssimo num País que tem imensa riqueza em biodiversidade e imenso potencial em profissionais na área.


Por outro lado, Portugal tem crescido bastante a nível de turismo e de produção agrícola nos últimos tempos, e isso tem trazido impactos graves para a biodiversidade portuguesa, pela redução e degradação do habitat. E é difícil pôr a conservação da Natureza em primeiro plano quando o objectivo é trazer cada vez mais turistas e vender cada vez mais azeite ou vinho.


"Mas nem tudo é negativo. Têm aparecido cada vez mais ONGs de Natureza que têm feito um excelente trabalho no campo e têm um papel muito importante na sensibilização e educação ambiental. Vejo um grande potencial em criar parecerias entre a investigação académica e estas ONGs de Natureza." afirma.


Saibam mais sobre a investigação deste jovem investigador em:







Teresa Santos

Teresa Santos é aluna de doutoramento do programa doutoral BIODIV da Universidade de Lisboa, estando a desenvolver a sua investigação no cE3c - Centro de Ecologia Evolução e Alterações Ambientais, no grupo de Genética Evolutiva.


O projecto de doutoramento de Teresa Santos tem como foco os impactos das acções humanas nas populações de elefante da savana no sul de África. Mais especificamente, o objectivo é determinar se características morfológicas (como o tamanho das presas) e os níveis de diversidade genética sofreram alterações nas últimas décadas devido a actividades como a caça ou actividades que levem à fragmentação de habitat.


Estas informações são vitais para que quem gere parques nacionais e reservas privadas possa melhor proteger esta espécie bem como as populações humanas que vivem lado a lado dos elefantes. "Por agora não temos resultados prontos a comunicar, mas esperamos poder fazê-lo em breve" afirma a jovem investigadora.


Quando questionada acerca do futuro da conservação em Portugal, Teresa Santos, afirma que "a comunidade de conservação em Portugal está cheia de pessoas entusiasmadas que têm todo o interesse e vontade em encontrar a melhor forma de conservar a biodiversidade sem esquecer as preocupações das populações humanas" e menciona que "gostaria de contribuir para este objectivo ao comunicar os meus resultados ao público em geral, bem como aos decisores políticos e locais para melhor informar as suas decisões no que toca à necessidade da conservação de espécies e habitats."


A jovem investigadora é da opinião que a principal dificuldade com que se deparam os investigadores em conservação é a falta de vontade política em fornecer financiamento para executar trabalhos de fundo e de longo prazo que são cada vez mais necessários para combater a crise da biodiversidade e as alterações climáticas. A precariedade e falta de perspectivas de emprego nesta área são agravantes.


Texto de Inês Reis dos Santos com revisão de Maria Amélia Martins-Loução.


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