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In Memoriam - Charles Buchanan (1934 - 2025)

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    SPECO
  • 26 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 27 de mar.

Do Ambiente à Responsabilidade Social, Charles Buchanan, manteve-se sempre aberto e solicito para quem queria fazer diferente. A SPECO sempre se considerou grata e privilegiada pelo suporte logístico e financeiro que recebeu da Fundação Luso-Americana (FLAD) através dele, enquanto Administrador da FLAD e pelo apoio e estímulo que Charles Buchanan, enquanto pessoa, dedicou à nossa jovem sociedade.



Charles Buchanan veio para Portugal, para exercer as funções de Administrador da FLAD, como responsável pelas áreas da Ciência, Tecnologia e Ambiente, em particular para os programas de Cooperação Tripartida com a Europa e o Mediterrâneo, já depois dos seus cinquenta anos. Branco, arruivado, com olhos azuis muito expressivos e sempre sorridentes, mostrava-se prazenteiro e acessível para qualquer pessoa. Formado em engenharia pela Academia Naval de Annapolis, a área das Ciências e Tecnologia era a sua base teórica que soube aplicar e praticar durante o tempo que esteve na Marinha a cumprir serviço militar. O seu conhecimento foi ainda alargado às relações internacionais (Mestrado na Universidade John Hopkins, School for Advanced International Studies, Washington, D.C) e à administração de empresas (Mestrado na Massachusetts Institute of Technology, Sloan School of Management), que o habilitou para as áreas da diplomacia e gestão que colocou em prática durante 24 anos como responsável pela gestão de Programas de Cooperação Económica na Argentina, Brasil, Peru, América Central e Portugal no serviço diplomático do Departamento de Estado Americano. Este percurso contribuiu para o seu vasto conhecimento e interesse genuíno por todas as áreas científicas incluindo a área do ambiente, mas também atento e solicito a propor parcerias sempre preocupado em encontrar soluções de forma inovadora, assertiva e optimista.


Contactei-o no início da década de 90 e recordo a pessoa atenciosa e solicita, que muito me auxiliou na indicação de contactos de investigadores americanos da área da produção integrada e sustentável. Nessa altura, tinha acabado de chegar da minha primeira estadia em Israel e tinha como objectivo estabelecer parcerias com grupos a desenvolver trabalho com a alfarrobeira. Estava preocupada em aumentar o conhecimento de uma espécie mediterrânica mas em contribuir, simultaneamente, para o aumento da produção em situação de sequeiro. Charles ouviu-me com atenção e logo mostrou o seu caracter verdadeiramente visionário mostrando interesse por projetos que considerasse inovadores, particularmente que tivessem em conta a preocupação sobre as alterações climáticas, que se antevinham.


A partir desse momento, sempre que necessitava de um nome, um contacto, um financiamento para trazer alguém a Portugal, era a Charles que recorria. Este apoio não se circunscrevia a pontes entre Portugal e Estados Unidos da América, mas alargava-se à América Latina, em particular Peru e Argentina onde tinha conhecimentos, em resultado do seu papel em Programas de Cooperação Económica com esses países (1963-1967). Lembro-me que na altura ele se interessou muito pela minha vontade férrea em trabalhar com a alfarrobeira e lembrou-se que no Peru existia também uma planta com o mesmo nome - carob (em inglês) - com quem poderia estabelecer pontes. Ficou surpreso e mais curioso quando lhe comuniquei que não era a mesma espécie, mas outra afim que desenvolvia a mesma estratégia.


Quando criámos a Sociedade Portuguesa de Ecologia, em 1995, tentámos, através dele estabelecer pontes com a Sociedade Americana de Ecologia. A nossa determinação em alargar o papel desta recém criada sociedade era genuína e, como já nos conhecíamos, começou a acompanhar o nosso percurso com atenção, ideias e estímulos. No início da primeira década deste século, foi também a ele que a SPECO recorreu quando decidiu promover o estabelecimento da Rede Nacional de Sítios de Monitorização Ecológica de Longo Prazo, vulgarmente designados como Sítios LTER (Long-Term Ecological Research, na terminologia inglesa).



Através deste tipo de redes, implementada nos Estados Unidos desde 1988, a direcção da SPECO procurou experiência, tendo contado com o apoio da FLAD, na pessoa de Charles Buchanan, para facilitar as reuniões de preparação e estabelecer o intercâmbio institucional. Com início em 2003, este foi um longo e desafiante projecto promovido pela SPECO, que durou 8 anos. Teve como grande mérito o facto de ter envolvido ecólogos de diversas instituições nacionais para analisar o interesse e premência de se criar uma rede LTER Portugal. Hoje, a rede LTER Portugal (https://lterportugal.pt) é reconhecida internacionalmente e colabora ativamente nas actividades da rede LTER Europa e da rede ILTER (internacional).



Já depois de ter deixado a FLAD, Charles Buchanan continuou a estar ligado à SPECO como sócio efectivo e benemérito acompanhando o percurso e incentivando outros a juntarem-se. Lembro a sua participação activa durante a organização em Lisboa, do Congresso da European Ecological Federation (FCUL, 2019), o contacto que manteve com os diferentes participantes e o incentivo que nos deixou no livro do congresso. Recordo ainda a homenagem que lhe prestámos nas comemorações dos 25 anos, em 2020, em plena pandemia. Este ano, a homenagem pretendia ser renovada, presencialmente, no âmbito das comemorações dos 30 anos da SPECO. Far-lhe-emos seguramente um tributo porque a memória da dedicação, carinho e capacidade ímpar de criar sinergias de que tanto usufruímos, ficarão gravadas na história da SPECO.


Lisboa, 26 Março 2025


Maria Amélia Martins-Loução

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