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A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), na sua última avaliação de risco ambiental da azoxistrobina, o fungicida agrícola mais utilizado no mundo, concluiu serem necessários mais estudos científicos que clarifiquem o risco deste pesticida para os organismos aquáticos. Neste contexto, através de um Projeto de Doutoramento financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, uma equipa do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra trabalhou durante quatro anos, contribuindo para responder a esta questão. Assumindo especial destaque, um estudo de revisão publicado na revista Environment International foi o ponto de partida para delinear os vários trabalhos de laboratório e de campo. No âmbito da componente espacial associada à Avaliação de Risco Ambiental, foram validados métodos analíticos que permitem determinar os níveis de vários pesticidas, entre os quais a azoxistrobina, em água superficial e matrizes estuarinas complexas, como sejam sedimento, macroalgas, plantas aquáticas e bivalves.
Aplicando estas metodologias, foi possível determinar a variação sazonal e espacial dos pesticidas no estuário do rio Mondego, obtendo-se, assim, níveis reais de exposição num sistema estuarino. Para atingir a dimensão dos potenciais efeitos adversos que caracteriza o risco, avaliou-se a toxicidade da azoxistrobina a diferentes níveis da organização biológica. A nível subcelular, foi utilizada a mitocôndria como modelo experimental, tendo estes organelos celulares sido isolados de hepatopâncreas de caranguejo verde Carcinus maenas; ao nível celular, foram utilizadas seis linhas celulares derivadas de mamíferos e peixes; e ao nível da população, foram utilizadas formas larvares e juvenis de vários organismos aquáticos. Usando os últimos resultados e recorrendo a curvas de distribuição da sensibilidade das espécies, foi possível determinar e validar para a azoxistrobina a concentração sem efeitos para os organismos aquáticos, parâmetro fundamental para a caracterização do risco no compartimento água preconizado pela UE.
Este Projeto trouxe ainda um importante contributo para o desenvolvimento de ensaios ecotoxicológicos alternativos ao uso de peixes (organismos vertebrados) em laboratório. Para isso, foi elaborado um trabalho de revisão sobre a utilização do invertebrado Carcinus maenas como modelo experimental credível, e foram identificados uma linha celular e um teste laboratorial mais adequados para substituir os habituais ensaios letais com peixes, para o caso da azoxistrobina. Este tema esteve na origem de um projeto científico inovador, aprovado para financiamento em 2016, que pretende acelerar o estudo e o desenvolvimento de métodos alternativos aos ensaios letais com peixes, contribuindo assim para que, no futuro, os testes in vitro com linhas celulares sejam validados como ensaios alternativos.
Por último, este Projeto de Doutoramento alertou para a necessidade de melhoria do processo de avaliação prospetiva de risco ambiental dos pesticidas, processo que leva à autorização da sua comercialização ao nível da UE, uma vez que concluiu que, quase 20 anos após o início da aplicação da azoxistrobina, o seu uso agrícola apresenta risco para os organismos aquáticos. Esta matéria serviu de inspiração para um novo projeto científico, submetido para avaliação em 2017.
Autor
Elsa Rodrigues
Centro de Ecologia Funcional, Universidade de Coimbra. E-mail: etrodrig@zoo.uc.pt
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