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Prémio de Doutoramento 2021 | Miguel Baptista, 2º Classificado



Miguel Baptista investigador no MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, debruçou a sua investigação sobre o peixe-lua (Mola mola), o que lhe permitiu o delineamento de medidas de conservação mais objectivas e necessárias tendo em vista o declínio generalizado desse peixe icônico. Por falta de interesse académico, informação credível sobre a biologia e ecologia desta espécie é escassa, pelo que este trabalho veio preencher uma lacuna no que se refere à utilização espacial, crescimento e composição. O peixe-lua é um peixe predador de grande porte presentemente ameaçado e classificado como “vulnerável”, de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) uma vez que se estima um declínio global de 10% por década. Este trabalho permitiu mostrar que a temperatura da superfície do mar e a concentração de clorofila a (como “proxy” para a produtividade), são factores ambientais que predizem o seu espaço de utilização. Comparando populações das águas do Atlântico Norte com outras do Pacífico Norte verificou que há diferenças em termos de relação peso/comprimento e que a sua composição elementar varia consoante a estação do ano e o tipo de músculo em observação. Estes dados permitem uma melhor compreensão de um predador de topo da cadeia alimentar do oceano que funciona como regulador de organismos gelatinosos, contribuindo para o equilíbrio dos ecossistemas no oceano.


A SPECO conversou com Miguel Baptista sobre a sua vitória, as suas motivações para concorrer, sobre o percurso passado no seu doutoramento, e os passos seguintes. E sugere-nos forma de impulso dirigidas a jovens do ensino secundário/superior que ainda não definiram o seu futuro. Saiba quais!


1 Qual ou quais as perguntas que estiveram na base do seu projecto de doutoramento?

Até muito recentemente, pouco se conhecia sobre o peixe-lua Mola mola. No entanto, esta espécie está categorizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como “vulnerável”, estimando-se um declínio global de 10% a cada década. Desta forma, o objectivo do meu projecto de doutoramento foi precisamente alargar o conhecimento relativo a este magnífico peixe, possibilitando assim o delineamento mais informado de medidas de conservação que permitirão preservar esta espécie. Nesse sentido, foram objecto de estudo três tópicos subestudados: uso espacial, crescimento e composição elementar. Especificamente, foram colocadas três perguntas: Qual a sazonalidade e abundância do peixe-lua no Sul de Portugal? Existirão diferenças na relação peso-comprimento deste peixe em diferentes zonas da sua distribuição geográfica? Qual a composição elementar do peixe-lua e como é que esta varia em função de determinados factores?


2 Que resultados o deixaram mais satisfeito?

Dois resultados deixaram-me particularmente satisfeito. Perceber que o peixe-lua não é um animal raro nas águas do Sul de Portugal, foi muito positivo. De facto, pude concluir que diariamente, durante a Primavera e o Outono, encontram-se frequentemente mais de 100 indivíduos juvenis ao largo de Olhão. Por outro lado, providenciar, pela primeira vez, uma visão holística da composição elementar destes peixes, foi muito gratificante uma vez que se expandiu consideravelmente esta área de conhecimento. Até então os poucos estudos existentes haviam focado um pequeno número de espécimes e/ou tecidos e/ou elementos. Ao analisar um considerável número de espécimes, tecidos e elementos, foi possível caracterizar a dinâmica elementar de peixes-lua juvenis, tendo-se ainda alargado essa análise ao caracterizar o efeito de variáveis como o sexo, dimensão (idade) e época do ano.


3 Qual ou quais os principais desafios que enfrentou? Como conseguiu superá-los?

Sem dúvida, um dos grandes desafios deste projecto esteve relacionado com a obtenção de espécimes, sendo que no primeiro ano do doutoramento apenas consegui amostrar três peixes-lua. A partir do segundo ano e usufruindo de acesso privilegiado a uma armação de pesca de atum (TUNIPEX S.A.), passei a ter acesso a um considerável número de espécimes, mas muito poucos apresentavam comprimento superior a 60 cm. Amostrar espécimes de maior dimensão, raros em águas do Sul de Portugal, era, no entanto, essencial para a determinação da relação peso-comprimento do Atlântico Norte e para caracterizar a influência da dimensão (idade) na composição elementar do peixe-lua. Para superar este desafio, levei a cabo seis temporadas de campo (Primavera e Outono), cada uma com a duração de 1,5-2 meses, embarcando duas vezes por dia (de madrugada e ao início da tarde). A par do cansaço físico, uma das grandes componentes deste desafio foi lidar com a incerteza de vir a conseguir os espécimes necessários para levar a cabo uma investigação robusta. Por outro lado, em consequência da dificuldade em obter espécimes, terminei a amostragem no final do 3º ano de doutoramento, sobrando pouco tempo para a análise de dados e escrita da tese, o que se revelou como o maior desafio do doutoramento, superado com dias de trabalho intenso.


4 O que ficou por explorar?

Em resultado do período de funcionamento da armação de pesca – Primavera a Outono, não foi possível avaliar a abundância de peixes-lua nas águas do Sul de Portugal durante o Inverno. Gostava de saber o que acontece nessa altura do ano. Ficou também por explorar o padrão de sazonalidade ao longo de toda a costa ibérica uma vez que poderá elucidar sobre a eventual existência de duas subpopulações no Atlântico Nordeste. Outra questão por resolver prende-se com a escassez de indivíduos de maior dimensão nas águas do Sul de Portugal, contrastando com as águas do Japão, por exemplo, onde é frequente encontrar espécimes adultos (comprimento total superior a 1,5 m).


5 Quais serão os próximos passos enquanto investigador?

O meu objectivo é continuar a alargar o conhecimento sobre os peixes-lua, especificamente na região que compreende o Oceano Atlântico Norte e o Mar Mediterrâneo. Foi recentemente descrita uma nova espécie de peixe-lua - M. alexandrini, com uma distribuição cosmopolita semelhante à do M. mola, e encontrada outra no hemisfério Norte - M. tecta, que se presumia ocupar apenas o hemisfério Sul. Além de aspectos da ecologia destes peixes que permanecem por estudar, existem também novas questões relacionadas com a sua potencial coexistência no Atlântico Norte e Mar Mediterrâneo, pelo que pretendo investigar: (i) a abundância relativa das várias espécies de peixe-lua, (ii) o tamanho populacional de cada espécie, (iii) a estrutura populacional de cada espécie, (iv) a distribuição dos espécimes adultos e (v) as localizações e épocas de desova das várias espécies.


6 O que o levou a concorrer ao Prémio?

Decidi concorrer ao Prémio por considerar que é uma óptima forma de reconhecimento do trabalho de investigação em Ecologia por jovens investigadores e porque é uma excelente oportunidade para dar a conhecer aspectos do meu trabalho e da bio-ecologia do peixe-lua à comunidade SPECO e a outros ecólogos.


7 Que impacto espera que o Prémio tenha na sua carreira e no seu trabalho?

Receber este prémio é muito gratificante dada a sua significância no reconhecimento do mérito do meu doutoramento, mérito esse que partilho com todos aqueles que o tornaram possível. Além de enriquecer o meu currículo, espero que este prestigiado Prémio actue como indicador da qualidade do meu trabalho de investigação e que, dessa forma, potencie futuras oportunidades de trabalho, bem como a minha carreira.


8 O que gostaria de ver na SPECO que impulsionasse os jovens a seguir investigação em Ecologia?

Muito francamente, considero que a SPECO já faz um trabalho excepcional para incentivar jovens a seguir investigação em Ecologia. Além deste Prémio, existe também, por exemplo, o programa de projectos ECR financiados pela SIBECOL. Uma forma de impulso adicional poderia ser dirigida a jovens do ensino secundário/superior que ainda não definiram o seu futuro, porventura através da realização de escolas de Verão em Ecologia.




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