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Prémio de Doutoramento em Ecologia 2024 | Martina Panisi, 1ª Classificada

Martina Panisi foi a vencedora do primeiro prémio do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO.



Martina Panisi, actualmente investigadora no BIOPOLIS/CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto mas antes estudante de mestrado e doutoramento no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foi a vencedora do primeiro prémio do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO.


Martina Panisi desenvolveu um estudo multidisciplinar com vista a explorar as relações entre moluscos terrestres, os seus habitats e as pessoas que vivem nas ilhas oceânicas do Golfo da Guiné - São Tomé e Príncipe e Annobón. O seu grande desafio foi o de tentar desenvolver medidas de conservação eficazes em países em desenvolvimento que são ao mesmo tempo hotspots de biodiversidade. Nesta região, em particular, existe uma elevada proporção de endemismos de moluscos terrestres cuja ecologia e importância social é pouco conhecida. Por outro lado desconheciam-se as consequências das actividades humanas, como as alterações do uso do solo e a introdução de espécies exóticas na malacofauna destas ilhas.


Os resultados deste trabalho permitiram compreender a importância da preservação de ecossistemas florestais para a malacofauna nativa das ilhas e para prevenir invasões, aportar conhecimentos sobre as populações locais de espécies endémicas, e alertar para o perigo de desenvolver medidas de conservação para estes endemismos em presença de espécies invasoras com nítidos benefícios económicos. Por esta razão, esta tese de doutoramento representa a componente de investigação de um projecto de conservação aplicado e de educação ambiental que envolveu centenas de pessoas ao longo de quatro anos.


No âmbito da celebração deste marco, e de modo a realçar a importância da sua investigação, a vencedora foi convidada a responder a algumas perguntas, cujas respostas pode encontrar abaixo.


  • "O que esteve na base do desenvolvimento deste trabalho de doutoramento?"


A conservação da natureza frequentemente foca nos vertebrados, negligenciando a vasta biodiversidade dos invertebrados, cuja parte está em risco de desaparecer antes mesmo que conheçamos muitas das suas espécies. Durante o meu mestrado, os meus orientadores, Ricardo Faustino de Lima e Jorge Palmeirim, proporcionaram-me a oportunidade de investigar o rápido declínio de um caracol terrestre gigante nas ilhas de São Tomé e Príncipe. A partir dessa investigação, ficou claro que eram necessárias medidas de conservação específicas e mais estudos sobre a rica, embora pouco conhecida, diversidade dos moluscos terrestres das ilhas do Golfo da Guiné, as ameaças, o uso por parte das pessoas e as formas de preservá-las. Após o mestrado, criamos com colegas um projeto de educação e conservação através da National Geographic Society e Alisei NGO. Esse projeto possibilitou encontrar mais financiamento e desenvolver as questões que fundamentaram esta tese de doutoramento, incluindo também uma componente social com a contribuição da minha terceira orientadora, Ana Nuno.


Fotografia: (c) Vasco Pissarra – Forest Giants Project
  • "Ao longo deste trabalho qual foi a sua maior alegria?"


A minha maior alegria é, sem dúvida, utilizar ferramentas de investigação para ter um impacto prático no terreno. Por exemplo, investigar o conhecimento da diversidade e as preferências de conservação das crianças para identificar e corrigir falhas nos programas de educação ambiental. O que me manteve também motivada foram as pessoas com quem compartilhei este grande projeto, cada uma contribuindo com o seu conhecimento, paixão e esforços. Trabalhar com a equipa na floresta, sabendo que estávamos a gerar conhecimento importante para as ilhas e a criar bases para futuras medidas, foi essencial para nos mantermos alegres durante os momentos mais desafiantes.


  • "Que desafios teve de enfrentar e que motivações arranjou para superar os seus problemas?"


O maior desafio foi, provavelmente, desenvolver a componente de investigação enquanto era preciso angariar fundos e gerir o projeto de conservação que permitiu a coleta dos dados, o 'Forest Giants', com a pandemia tudo se tornou ainda mais complicado. Contudo, tive a sorte de ter ao meu lado pessoas com as quais, no bem e no mal, partilhei esta aventura e que me permitiram crescer muito como pessoa, investigadora e conservacionista. Isto permitiu encarar as dificuldades como oportunidades para aprender algo de novo e tentar produzir com os outros — pessoas e espécies — algo que pudesse ser útil ao crescimento ou melhoria de todos.


Fotografia: (c) Vasco Pissarra – Forest Giants Project
  • "O que ficou por explorar?"


Agora sabemos quais espécies de moluscos terrestres existem nas ilhas, quais são as ameaças ao seu desaparecimento, quais espécies precisam de proteção prioritária e como envolver as pessoas nesse processo. No entanto, ainda falta melhorar o conhecimento sobre os efeitos da perda de habitat e das espécies introduzidas na diversidade filogenética e funcional deste grupo, e existem regiões e habitats subamostrados, como a falta de levantamentos sistemáticos na menor ilha, Annobón.


Fotografia: (c) Vasco Pissarra – Forest Giants Project
  • "Quais serão os próximos passos da sua carreira?"


Os próximos passos incluem aplicar as técnicas que aprendi durante o doutoramento para avançar nos estudos e na conservação de invertebrados, bem como nas componentes sociais da investigação para conservação. Desde o final do doutoramento colaborei com outros projetos de conservação de caracóis em Portugal e trabalhei num projeto de educação ambiental e investigação financiado pela National Geographic na Tanzânia. Atualmente, trabalho para a Associação BIOPOLIS, no grupo BIODESERTS do CIBIO, onde tenho a oportunidade de desenvolver estudos socio-ecológicos com comunidades locais e pesquisas sobre os invertebrados que vivem no deserto da região do Mar Vermelho, na Península Arábica.


  • "O que a levou a concorrer a este Prémio?"


Conheço este prémio porque, na edição do ano passado, foi ganho por uma pessoa que admiro muito como investigadora, Filipa Soares, com quem partilhei os anos de trabalho do mestrado e doutoramento. Ao longo dos anos do doutoramento, a motivação que recebi de vários membros da SPECO foi fundamental para o meu percurso académico. Este prémio, possível graças à generosidade da SPECO e da Fundação Amadeu Dias, é sem dúvida um incentivo importante para nós, ecólogos, e que traz um grande alívio e satisfação após vários anos de trabalho árduo.


  • "Que impacto espera obter com este resultado?"


Espero que este resultado inspire mais investigadores a dedicar maior atenção à ecologia e conservação de invertebrados. Além disso, desejo que este reconhecimento encoraje a adoção de uma abordagem multidisciplinar nas pesquisas, onde a dimensão humana seja mais considerada. É crucial que as investigações que visam fornecer recomendações práticas para a conservação de espécies integrem não apenas aspectos biológicos, mas também sociais e culturais, para garantir soluções mais eficazes e sustentáveis.


Fotografia: (c) Vasco Pissarra – Forest Giants Project
  • "O que gostaria de ver na SPECO que impulsionasse os jovens a seguir investigação em Ecologia?"


A SPECO tem uma posição privilegiada para orientar os jovens nos diversos caminhos em que podem contribuir para a Ecologia. A rede de ecólogos de diferentes idades e experiências que integram a SPECO oferece uma oportunidade valiosa para a troca de experiências com jovens que desejam seguir essa carreira. Para que esse percurso seja mais fácil para os jovens no futuro, seria também útil insistirmos em uma participação política ativa, visando melhorar as condições para quem desejam trabalhar ou continuar trabalhar em ecologia – em particular em investigação - em Portugal.


  • "Como tenciona contribuir para aumentar a visibilidade da SPECO?"


Dentro do nosso país, estou disponível a divulgar as iniciativas da SPECO para os mais jovens e a participar em ações de educação ambiental sempre que necessário. Fora de Portugal, tenciono partilhar com os contatos nos países em que trabalho na África e no Médio Oriente os progressos da investigação em ecologia em Portugal e as contribuições dos investigadores portugueses.


  • "Que conselhos gostaria de dar aos jovens estudantes de Doutoramento?"


Aconselho a relativizar a experiência do vosso Doutoramento. Sim, pode ser uma parte importante da vossa vida, mas não é o que nos define por completo: começa e acaba, o seu maior objetivo é permitir-nos aprender e crescer, não tem que ser perfeito. Rodeiem-se de pessoas que criem um bom ambiente e nas quais confiam, apostem na colaboração em vez da competição, e lembrem-se de que nenhuma tese de Doutoramento é mais importante que a vossa saúde mental. Sejam gratos pela presença de pessoas mais capazes que vocês, pois são elas que vos permitirão aprender e evoluir. E, sobretudo, aproveitem esta oportunidade para descobrir o que realmente gostam de fazer e no que querem seguir. Este é o vosso projeto, aproveitem-no ao máximo para crescer não apenas como investigadores, mas também como pessoas.


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