Já são conhecidos os vencedores da edição 2023 do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO - Sociedade Portuguesa de Ecologia. As alterações taxonómicas e funcionais de espécies de avifauna em ilhas oceânicas, usadas como ferramenta global para compreender o funcionamento destes ecossistemas ameaçados, foi o primeiro trabalho premiado. O segundo, trouxe novas informações sobre a taxonomia e ecologia das espécies de carvalhos nativas em Portugal. O terceiro classificado contribuiu para a avaliação ecotoxicológica de elementos de terras raras em diferentes grupos taxonómicos marinhos, tais como esponjas, peixes, bivalves e algas.
Filipa Soares, actualmente investigadora no “Centre d'Écologie et des Sciences de la Conservation", Museu Nacional de História Natural de Paris, mas antes estudante de mestrado e doutoramento no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Carlos Vila-Viçosa, investigador no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Cátia Figueiredo, investigadora no CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental) da Universidade do Porto, mas antes estudante de doutoramento no MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foram seleccionados como primeiro, segundo e terceiros classificados, respectivamente, pelo júri convidado a avaliar as candidaturas ao Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias.
Os Premiados
Filipa Soares explorou as implicações taxonómicas e funcionais das extinções e introduções de aves em 74 ilhas oceânicas, distribuídas por três oceanos (Atlântico, Pacífico e Índico). Estes ecossistemas são dos mais ameaçados pelo impacte do Homem, para além das alterações climáticas a que estão sujeitos. Para a realização deste objectivo recolheu a riqueza específica da avifauna, as características funcionais de cada espécie, listou as espécies nativas, extintas, existentes e introduzidas e compilou as características biogeográficas e antropogénicas das respectivas ilhas, que potencialmente influenciam a diversidade de aves introduzidas. A inovação deste trabalho consistiu na utilização das características funcionais, para além das taxonómicas já utilizadas anteriormente por outros autores, para aumentar a compreensão dos impactes antropogénicos nas alterações espacio-temporais da diversidade taxonómica e funcional da avifauna. Com este trabalho é agora possível prever tendências futuras de evolução ecológica e propôr ferramentas globais para a conservação eficaz de ecossistemas resilientes e funcionais.
Carlos Vila-Viçosa debruçou-se sobre um dos géneros mais diversos e importantes que dominam as florestas do Hemisfério Norte, o género Quercus, ou carvalhos, como são vulgarmente denominados. Em particular, estudou as espécies de carvalhos caduco-marcescentes da Península Ibérica, a sua capacidade de hibridação, aumentando o conhecimento sobre a diversidade de espécies. A inovação deste trabalho holístico de ecologia abrangeu o estudo taxonómico, evolutivo, biogeográfico e molecular deste género o que permitiu desvendar a filogenia dos carvalhos e a dinâmica de distribuição das espécies, tanto no passado como no futuro. Os resultados evidenciaram a Península Ibérica como um hotspot para a diversidade do género, identificaram novas espécies de Quercus, permitiram melhorar o conhecimento sobre as respostas destas plantas arbóreas a mudanças nos regimes climáticos e a antecipar estratégias de conservação destas espécies e das suas florestas.
Cátia Figueiredo usou abordagens bioquímicas para investigar a bioacumulação, eliminação e interacção de elementos de terras raras (REE, do inglês rare earth elements) em diversos grupos taxonómicos marinhos (esponjas, peixes, bivalves e algas). A disponibilidade deste tipo de elementos associados às alterações climáticas é um desafio ambiental com consequências ainda pouco conhecidas. Os resultados evidenciaram um potencial ecotoxicológico de REE nas diferentes espécies dos diferentes grupos estudados, com respostas específicas por espécie, por elemento e por dose, sugerindo que a acumulação de REE e as respostas ecotoxicológicas num futuro próximo é excepcionalmente complexo de compreender. Por outro lado, a acumulação de REE e os efeitos tóxicos podem ser exacerbados pelas mudanças climáticas, impondo consequências nocivas às espécies. Os dados desta tese podem, assim, ser basilares para o processo de tomada de decisões políticas sobre estas problemáticas emergentes.
O Prémio
Os três primeiros classificados irão apresentar o seu trabalho e receber o prémio no 22º Encontro Nacional de Ecologia que, este ano, irá decorrer de 23 a 25 de Novembro na Universidade do Algarve. Os prémios, no valor de 3 000, 2 000 e 1 000 euros, são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de 2 anos com quotas pagas.
O prémio recebeu 13 candidaturas elegíveis, de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Aveiro, Coimbra, Fernando Pessoa, ISPA, Lisboa e Porto.
O Júri
Professora Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia),
Doutor João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias,
Doutor Joaquin Hortal, investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales (CSIC) Madrid,
Doutor Jorge Gonçalves, professor convidado da Universidade do Algarve, Investigador Senior e Membro da Direcção do CCMAR (Centro de Ciências do Mar),
Professora Helena Freitas, professora catedrática da Universidade de Coimbra e coordenadora do CFE (Centro de Ecologia Funcional),
Professora Myriam Lopes, professora associada da Universidade de Aveiro, e vice-coordenadora do CESAM (Centro de Estudos Ambientais e Marinhos),
Professor Ricardo Melo, professor auxiliar da Universidade de Lisboa e coordenador do pólo de Lisboa do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente).
Kommentare