Já são conhecidos os vencedores da edição 2018 do Prémio de Doutoramento em Ecologia – Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia. Os três classificados irão apresentar o seu trabalho no 17º Encontro Nacional de Ecologia, que terá lugar a 15 e 16 de Novembro na Universidade de Évora.
Paula Matos, investigadora no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas) da Universidade de Lisboa, Luis Silva, investigador no CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto) e Marc Fernandez, investigador no cE3c da Universidade dos Açores, foram seleccionados como primeiro, segundo e terceiros classificados, respectivamente, pelo júri convidado a avaliar as candidaturas ao Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias.
Os Premiados
Paula Matos
Paula Matos desenvolveu um indicador ecológico global para avaliar os efeitos das alterações climáticas nos ecossistemas. Este indicador integrou dados, até então não exploradas, sobre a diversidade funcional de líquenes, para obter uma avaliação robusta da estrutura e funcionamento dos ecossistemas, como é reclamado pela rede global GEO BON, de monitorização multi taxa. Para além desta inovação metodológica, a investigação teve outros aspectos inovadores. Nomeadamente, a harmonização das metodologias usadas tanto na Europa como nos Estados Unidos permitindo estudos retrospectivos e futuros à escala global sobre as alterações climáticas; e a validação da substituição do espaço pelo tempo usado para desenvolver os modelos, o que permitiu a avaliação de mudanças climáticas subtis ao longo de 15 anos, não detectadas por métricas clássicas de clima. Pela sua simplicidade e ubiquidade, a utilização da funcionalidade dos líquenes, independentemente da sua identificação taxonómica, constitui um excelente indicador ecológico das alterações climáticas demonstrando potencial de alerta precoce, cumprindo os requisitos necessários para inclusão no GEO BON. Para justificar a sua aplicação como indicador à escala global foi já testado na Europa, nos continentes americanos, Norte e Sul, e na Ásia. A aplicação directa deste trabalho foi o desenvolvimento de uma ferramenta ecológica que foi já proposta para ser incluída na rede de indicadores das Nações Unidas e vir a ser potencialmente aplicada à escala global, para monitorizar os efeitos das alterações globais nas florestas.
Luís Silva
Luís Silva, na altura aluno de doutoramento do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Universidade de Coimbra, investigou interacções ecológicas entre aves e outros grupos taxonómicos, pouco exploradas e conhecidas em ecologia. Identificou, pela primeira vez num continente, a presença de uma guilda de passeriformes como polinizadores activos, que exploram o pólen como recurso alimentar, constituindo um verdadeiro nicho trófico do ecossistema. Este tipo de interacção só tinha sido descrito em ilhas oceânicas. Foi ainda demonstrado que as aves são simultaneamente dispersoras directas de esporos de fungos, isto é, transportam esporos entre flores e especificamente para locais adequados ao seu desenvolvimento. Esta interacção ecológica ao nível do ecossistema era praticamente desconhecida, e é relevante para a compreensão da transmissão de doenças que afectam diferentes cultivares. A identificação das redes ecológicas permite desenvolver uma visão holística sobre o funcionamento dos ecossistemas e compreender a resposta funcional do ecossistema perante alterações como a introdução de espécies invasoras. No global, este conhecimento é fundamental ao desenvolvimento de medidas de gestão e de estratégias de conservação.
Marc Fernández
O terceiro trabalho seleccionado, de Marc Fernandéz, é um importante contributo para o desenvolvimento de modelos de nicho ecológico de cetáceos. Um dos grandes problemas no desenvolvimento deste tipo de modelos é a escala temporal. Neste trabalho, Marc Fernandéz estudou os efeitos de diferentes escalas temporais das variáveis ambientais para, obter uma resolução adequada em ambiente dinâmico, como é o caso das áreas temperadas ou ilhas oceânicas. Demonstrou que a resolução temporal das variáveis ambientais é diferente consoante as espécies de cetáceos em estudo. A metodologia proposta constitui uma ferramenta fiável a ser usada na Gestão Dinâmica dos Oceanos, sendo de grande auxílio para a designação de rotas de navios, gestão de áreas de pesca, operações de prospeção sísmica ou outros potenciais usos dos oceanos.
O Prémio
Os prémios, no valor de dois mil e quinhentos, mil e quinhentos e mil euros, são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de 2 anos com quotas pagas.
O prémio recebeu 15 candidaturas, de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Lisboa, Nova de Lisboa, Coimbra, Aveiro, Porto, Minho e Açores.
O Júri
Professora Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia),
Professor Ricardo Melo, professor auxiliar da Universidade de Lisboa e coordenador do pólo de Lisboa do MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais),
Professora Margarida Reis, professora associada com agregação da Universidade de Lisboa e investigadora do cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas),
Professora Helena Freitas, professora catedrática da Universidade de Coimbra e coordenadora do CFE (Centro de Ecologia Funcional),
Professora Myriam Lopes, professora auxiliar da Universidade de Aveiro, e vice-coordenadora do CESAM (Centro de Estudos Ambientais e Marinhos),
Doutor Joaquin Hortal, investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales (CSIC) Madrid,
Doutor João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias.
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