Já são conhecidos os vencedores da edição 2022 do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO - Sociedade Portuguesa de Ecologia. A monitorização de impactes de linhas de Alta Tensão sobre a avifauna e avaliação da eficácia das medidas de mitigação, foi o primeiro trabalho premiado. O segundo, trouxe novas informações sobre o comportamento vocal das baleias comuns, azuis e sardinheiras durante a migração, fornecendo novas pistas sobre a função dos dois tipos de vocalizações da baleia comum. O terceiro classificado contribuiu para o desenvolvimento de uma abordagem de conservação e gestão integrada da vida selvagem em África, através da exploração das interacções dinâmicas entre grupos de comunidades de carnívoros selvagens.
Joana Bernardino, investigadora no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Miriam Romagosa, investigadora no Okeanos (Instituto de Investigação em Ciências do Mar), da Universidade dos Açores e Gonçalo Curveira Santos, investigador no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foram seleccionados como primeiro, segundo e terceiros classificados, respectivamente, pelo júri convidado a avaliar as candidaturas ao Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias.
Os Premiados
Joana Bernardino realizou uma meta-análise de estudos a nível internacional para compreender a eficácia da sinalização dos cabos eléctricos de alta tensão para evitar a colisão e subsequente mortalidade de aves. Com esta análise e a revisão de outros trabalhos realizados nos últimos 40 anos a nível mundial, sobre a biologia e ecologia das espécies, desenvolveu estudos experimentais com base em amostragens de campo e armadilhagens fotográficas. Esta abordagem permitiu-lhe compreender a dinâmica das espécies necrófagas responsáveis pelo desaparecimento dos cadáveres de aves que colidem com as linhas e clarificar que factores são responsáveis pelo enviesamento de dados sobre a mortalidade de aves em linhas eléctricas. Os resultados desta investigação têm aplicação imediata nas práticas das empresas de transporte e distribuição de eletricidade e na selecção das melhores soluções para mitigar e monitorizar os impactes dos projectos de rede eléctrica na avifauna
Miriam Romagosa, debruçou a sua investigação sobre as vocalizações de três espécies de baleias: a comum, azul e sardinheira. Para isso estudou os padrões temporais e espaciais das vocalizações, assim como das suas funções, para compreender a biologia e ecologia destas espécies durante a migração, fase menos conhecida do seu ciclo de vida. Através da análise de um extenso conjunto de dados acústicos recolhidos nos Açores e em diferentes regiões do Atlântico Norte, este trabalho demonstrou a presença contínua das baleias comuns e azuis no arquipélago entre o outono e a primavera, e revelou uma mudança sazonal no seu comportamento e na função do habitat dos Açores, com a produção de canções reprodutivas no inverno e de vocalizações associadas à alimentação na primavera. Este estudo também determinou, pela primeira vez, os níveis do ruído produzido pelo tráfego marinho em relação ao comportamento vocal destas baleias, e sublinhou a necessidade de uma monitorização contínua dos níveis de ruído subaquático para avaliar os possíveis impactes das actividades humanas e apoiar o planeamento e implementação de acções de conservação dirigidas a este grupo de cetáceos.
Gonçalo Curveira-Santos, explorou a resposta da comunidade de carnívoros Sul Africanos a modelos alternativos de conservação e gestão, em função das interacções entre grupos. Para tal, foi usada uma combinação de abordagens quasi-experimentais, baseada na heterogeneidade espacial dos modelos de gestão de fauna, e métodos estatísticos de inferência multi-espécie, para abordar as estratégias de conservação de carnívoros e desenvolvimento de planos de gestão de predadores na região. Ao longo deste trabalho verificou a importância de áreas de proteção formal a longo prazo, para a comunidade de carnívoros e os riscos que se cometem em praticar negócios lucrativos de exploração de vida selvagem como estratégia de conservação. Esta investigação sugere que os benefícios de uma abordagem descentralizada para a conservação da biodiversidade na África do Sul dependem de trajetórias, ainda desconhecidas, de recuperação de espécies e para o crescente apelo de uma visão ecológica holística para a conservação e gestão da vida selvagem.
O Prémio
Os três primeiros classificados irão receber o prémio e apresentar o seu trabalho no 21º Encontro Nacional de Ecologia que, este ano, irá decorrer de 4 a 9 de Julho na Universidade de Aveiro, integrado no 2º Congresso SIBECOL (Sociedade Ibérica de Ecologia). Os prémios, no valor de 3000, 2000 e 1000 euros, são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de 2 anos com quotas pagas.
O prémio recebeu 8 candidaturas elegíveis, de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Aveiro, Lisboa, Minho e Porto.
O Júri
Professora Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia),
Professor Ricardo Melo, professor auxiliar da Universidade de Lisboa e coordenador do pólo de Lisboa do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente),
Doutor Jorge Gonçalves, professor convidado da Universidade do Algarve, Investigador Senior e Membro da Direcção do CCMAR (Centro de Ciências do Mar),
Professora Helena Freitas, professora catedrática da Universidade de Coimbra e coordenadora do CFE (Centro de Ecologia Funcional),
Professora Myriam Lopes, professora associada da Universidade de Aveiro, e vice-coordenadora do CESAM (Centro de Estudos Ambientais e Marinhos),
Doutor Joaquin Hortal, investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales (CSIC) Madrid,
Doutor João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias.
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